O RECIFE HOJE A história no dia-a-dia Este fascículo encerra uma coleção que, contando histórias, delineou a trajetória de uma cidade. Nos monumentos e ruínas, nos escritos e na rotina, por toda parte, vagam estas histórias, sem apego ao tempo. São as histórias do Recife e dos recifenses, sem marco zero, feitas de acertos e de erros: de viver o dia-a-dia. Da cidade e do sonho de seus habitantes é feita a alma do Recife. Seu destino é escolhido ao sabor da rosa-dos-ventos que trazemos no coração. E assim, no futuro, quem sabe daqui a quinhentos anos, alguém leia no jornal uma bela história da qual, nós, vivendo nossas vidas, tomamos parte. O Editor Múltiplos tempos, múltiplas histórias A história do Recife foi, aqui, analisada em seus múltiplos aspectos, sem a pretensão de desvendar todos os seus mistérios, inventariar todos os fatos, dialogar com todos os personagens. A partir de 1964, o Brasil sofreu abalos políticos inquestionáveis que mudaram esperanças e redefiniram projetos. O período pós-64 nos traz lembranças amargas: caracterizou-se por fortes modificações na sociedade, pela consagração de um modelo econômico desenvolvimentista, fascinado pelas tecnologias, que não solucionou os problemas mais graves de desigualdade social, que ainda continuam. A cidade do Recife teve administrações que se definiram pela modernização e que, muitas vezes, desprezaram a preservação da memória, promovendo mudanças em nome do avanço técnico, desconhecendo os caminhos que poderiam levar a um diálogo de qualidade entre o antigo e moderno. A preocupação com a preservação patrimonial ganhou espaço, no Brasil, a partir de 1930 e, no Recife, em meados da década de setenta. A partir de então, criaram-se possibilidades para evitar que essa memória fosse desfigurada de todo. Os espaços físicos, as construções, os monumentos, têm suas histórias. Quando promovemos suas ruínas, estamos contribuindo para o desmantelamento do passado, para esquecer e apagar lembranças e valores. O espaço de uma cidade revela conflitos entre o antigo, o moderno e as relações de poder que o compõem. Nem sempre o discurso da modernização significa uma redefinição na qualidade de vida dos ocupantes do espaço urbano, mas uma forma de esconder as contradições, afugentando, embora fragilmente, seus traços de miséria e de desigualdade. Podemos verificar isso, muitas vezes, nas investidas da especulação imobiliária tão presentes nas três últimas décadas da história do Recife. A cidade cresce, mas para onde ou para quem? O Recife atual mantém ainda um forte diálogo com seu passado, que não pode ser desfeito. Isso significaria perda de identidade e fragmentação de uma memória, por si só, difícil de ser mantida. Isso não significa a defesa de um congelamento dos tempos, de um conservadorismo fechado para as ansiedades do futuro. Os tempos históricos devem buscar um equilíbrio na sua multiplicidade. A cidade e a cidadania podem ser vividas no sentido de que as escolhas busquem assegurar condições para que as definições da história não se limitem às imposições de uma minoria. O olhar do historiador está comprometido com essa abertura para o infinito, com a certeza de que a história não é um desfilar de nomes e datas, mas território de invenção e aventura que tem, na cidade, um espaço privilegiado para a fabricação de um cenário onde os personagens não se sintam como fantoches, mas como produtores do seu próprio texto. A preservação da memória urbana Pernambuco teve papel pioneiro, na preservação da memória urbana quando, em 1928, sai à frente na definição de iniciativas para preservação do patrimônio. A legislação federal e o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) somente surgem ao final da década de 30. No Recife, as normas que hoje regem a proteção do patrimônio edificado nascem no final dos anos 70, sob a orientação mais moderna que não se prende apenas aos monumentos excepcionais, mas privilegia conjuntos urbanos e seus significados culturais. Nestes últimos vinte anos, todas as mudanças na legislação do Recife respeitaram e reafirmaram os princípios lançados naquele momento. Mantendo uma ótica eminentemente urbanística, para cada sítio é definido um perímetro de maior rigor na proteção e uma área maior de entorno, onde há limitações para se manter um contexto urbano integrado. Assim, a cidade tem, hoje, 33 Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico, além de um conjunto de 154 imóveis especiais de preservação que podem ser integrados a novas construções. Geraldo Marinho A estrela, o leão, a cruz, o sol Os símbolos do Recife e suas representações Os símbolos de um povo invocam momentos históricos. Através dessa memória comum, buscam a união cívicadas pessoas que habitam o mesmo solo. A bandeira Através da Lei 11.210, de 15 de dezembro de 1973, a municipalidade recifense instituiu uma bandeira para a cidade, composta de símbolos que se referem a fatos memoráveis da história do Recife. A bandeira do Recife é retangular e tem por base três colunas verticais, sendo que as laterais são em azul e a central em branco, reportando às cores da bandeira do Estado de Pernambuco, do céu brasileiro e da paz. A força e a fé, ideais almejados pelo ser humano, são representados pela frase em latim Virtus et Fides. Símbolos de fé, força e esperança completam o visual da bandeira do Recife. São eles: a cruz, representando a colonização portuguesa, que trouxe o cristianismo para o Brasil; o leão neerlandês coroado, em amarelo, remetendo ao escudo de armas de Maurício de Nassau e ao Leão do Norte, apelido adquirido por Pernambuco pelo seu potencial histórico de lutas e, por fim, o sol e a estrela, ambos em amarelo, aludindo ao nosso astro maior e à representação da república brasileira, considerada originária das terras pernambucanas, através do movimento de 1817. O hino A música é também fator de união. Mais uma vez, o Recife invoca o heroísmo de sua gente, através dos defensores dos ideais de liberdade característicos do século XIX no mundo ocidental. O Hino da Cidade do Recife foi oficializado a 10 de junho de 1924 pelo Prefeito Antônio de Góis Cavalcanti. HINO DA CIDADE DO RECIFE
Letra - Manuel Arão I
Mauricéia! Um clarão de vitória Estribilho
Tecida de claridade, II
Mauricéia! Um fulgor vive agora III
E depois com suprema ousadia Aspectos Físicos de uma cidade anfíbia Os rios que cortam o território do Recife lhe conferem características peculiares. A cidade está situada sobre uma planície aluvional (fluviomarinha), constituída por ilhas, penínsulas, alagados e manguezais envolvidos pelos braços dos rios Beberibe, Capibaribe, Tejipió, Jaboatão e Pirapama. Esta planície é circundada por colinas em arco que vão de Olinda, ao norte, até Prazeres, ao Sul. Localização: 8º04'03" de latitude Sul, 34º53'00" de longitude Oeste, na faixa próxima à Linha do Equador. Limites: morros com altitudes variadas que se prolongam desde Olinda, ao Norte, até Jaboatão dos Guararapes, ao Sul. A Leste, o litoral é guarnecido por extensos cordões de arenito (arrecifes); a Oeste, os municípios de Camaragibe e São Lourenço da Mata. Percentual de território referente ao Estado de Pernambuco: 0,22% Área territorial: cerca de 218,7 Km², sendo 67,43% morros, 23,26% planícies, 9,31% aquáticas Áreas verdes (ZEPA): 5,5 % Extensão da praia: 8,6Km Média pluviométrica anual: 1500mm (nas proximidades do litoral) Clima: tropical quente e úmido, com chuvas de outono-inverno. Alternam-se estações chuvosas e secas. Temperatura média: 25ºC. O regime térmico possui relativa uniformidade, devido à proximidade do mar, com variação na ordem aproximada de 4ºC. População: 1,34 milhão de habitantes (contagem IBGE - 1996) |